A alfaiataria ainda está viva

A arte é antiga, mas mantém-se atual.

Luísa Santos28 Jan 2020
A profissão de alfaiate é, nos dias de hoje, mais menosprezada do que deveria. A verdade é que o conceito de “fast fashion" veio mudar a indústria que antigamente conhecíamos, moldando-a de uma forma muito peculiar e, sobretudo, centrada no consumo padronizado de roupa.

É indissociável o seu crescimento do gradual desaparecimento da alfaiataria, que foi dando lugar a novas marcas, novas lojas e novas formas de vender roupa - de uma maneira mais rápida e capaz de assegurar um nível de reposição nunca antes visto.

Alfaiates continuam a ser procurados

Esta arte, conhecida pela criação personalizada de roupas masculinas, não se deixou intimidar pelo avassalador aparecimento de novas “formas de vestir”. Pelo contrário, tendo-se reinventado e dado lugar a novos criadores.

O que é a alfaiataria
Falamos de uma arte extremamente respeitada, sobretudo quando em causa estão modas como a francesa ou a italiana, onde a importância dessa profissão nunca se deixou abalar. É um facto que grandes marcas de alta costura não dispensam este género de trabalho e têm vindo a reforçar o seu papel crucial para a moda a cada novo desfile.

A alfaiataria sempre foi vista como uma arte, sobretudo no universo masculino. Antigamente, os fraques e fraques e fatos homem só podiam ser feitos à medida e sob o olhar atento de um profissional da área.

Antes da profissão de estilista ganhar o destaque que hoje se conhece, sobretudo em grandes marcas de alta costura, era a de alfaiate que ocupava o lugar da ribalta.

O termo provém do francês “tailleur” e descreve o profissional especializado no desenho e produção de roupa masculina. Todo o processo é feito, claro está, de forma “artesanal”, isto é, sem recorrer a métodos digitais que facilitem o desenho, corte e produção de roupa.

O trabalho de um alfaiate destaca-se pela forte componente de personalização, capaz de criar peças como blazers, calças e coletes à medida - de uma forma única e que jamais se repetirá no mercado.

Isso significa que, aquilo que um homem veste, outro não poderá vestir da mesma forma. E é sobretudo esta a grande diferença entre essa arte milenar e a produção padronizada de roupa - que facilmente se encontra disponível em qualquer loja do ramo.


A importância da alfaiataria na moda
É absolutamente essencial o trabalho de um alfaiate numa marca masculina, isto por esse ser responsável pela criação de roupa única e que assenta, de forma irrepreensível, a determinado modelo ou cliente.

O seu desenvolvimento foi crucial para o mundo da moda, adaptando-se gradualmente às alterações de cada estação, às novas tendências e formas de vestir. Mas a verdade é que o trabalho dos alfaiates sempre andou de mãos dadas com toda e qualquer marca de roupa - seja ela de gama alta, média ou baixa.

Sendo que, da alta costura, a alfaiataria nunca “saiu”, o mesmo não aconteceu noutros contextos, como é o caso de lojas de venda de roupa masculina. Contudo, importa referir que essa situação foi-se alterando ao longo do tempo, pelo que marcas como a Cortefiel ou a Massimo Dutti reavivaram a importância que e alfaiataria tem para um bom fato (ou outra peça individual), disponibilizando, por isso, um serviço de criação personalizado ao cliente.

O trabalho dos alfaiates continua a ser procurado
Esquecendo, por agora, o conceito de “fast fashion" e a forma como, hoje em dia, se vende roupa, não podemos negar que a alfaiataria continua a ser procurada. É certo que a demanda não é tanta como a de há anos atrás, onde o único sítio em que se podia comprar um fato era no ateliê de um alfaiate.

O mesmo acontecia no caso das mulheres, que recorriam ao trabalho das costureiras e modistas para conseguirem roupas à medida e que, acima de tudo, favorecessem cada corpo de forma singular.

Contudo, e apesar do passar do tempo, há nomes que subsistem na área e que continuam a disponibilizar ao público masculino a possibilidade de criarem roupa à medida. Nomes como o de Paulo Battista, por exemplo, são indissociáveis do mais recente “boom" que a alfaiataria experienciou.

O seu trabalho já durava há alguns anos antes de Manuel Luís Goucha confessar, em direto, quem era o responsável pelos fatos que usava quando estava “no ar”. Essa projeção, juntamente com a publicidade conseguida através das redes sociais, elevaram o nome de Paulo Battista a um patamar ainda mais alto - sendo ele o responsável por vestir diversas celebridades até aos dias de hoje e por não se coadunar com a profissão de um estilista.

Ao invés de desenvolverem coleções de roupa masculina, os alfaiates dedicam-se à arte única de desenho e corte de opções mais clássicas, como é o caso dos fatos e fraques. O seu trabalho é, nos dias de hoje, muito procurado por aqueles que querem uma opção única no mercado - até mesmo para a comemoração de datas especiais, como é o caso dos casamentos.
Autor
A paixão pelas palavras acompanha-a desde sempre e a curiosidade por aquilo que não sabe leva-a a verbalizar todas as perguntas. É Licenciada em Ciências da Comunicação, com especialização em Jornalismo, e Mestre em Multimédia. Escrever mais e melhor será sempre o seu maior objetivo.
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